sexta-feira, 23 de maio de 2014

A cotidiana melancolia


A Melancolia na contemporaneidade é algo inerente ao cotidiano da grande maioria da população, tratando em particular do país em que vivemos. A Melancolia não sendo somente relacionada à perda de alguém, mas também de um algo, algo esse, muitas vezes não compreendido em sua totalidade pelo sujeito que vivencia sua perda. Somos todos sujeitos em falta, mas essa falta em meio a um turbilhão de informações ao qual estamos submetidos a todo o momento, torna-se uma constante cada vez mais insaciável.

Freud, em sua obra “Luto e Melancolia” explica bem essa realidade, traçando o contraponto e a relação entre a vivencia desses dois processos, que está cada vez mais inserido na vida das pessoas, qual seja o tipo de perda.

Para Freud, o Luto se refere à perda de alguém, ou algo amado, e não confere ao indivíduo um estado patológico, é uma fase transicional, assemelha-se a Melancolia, mas possibilita ao individuo responder a estímulos do ambiente, e o sentimento de culpa é limitado, não havendo sua exacerbação. Já na Melancolia, a perda não precisa ser necessariamente material, mas sua perda também simbólica, a perda neste caso (muito mais frequente) como relatado acima, muitas vezes não traz claramente o que se foi perdido. Sua característica principal é a falta de respostas aos estímulos ambientais, e seu completo desinteresse por tudo que está ao seu redor.

Uma rotina muitas vezes desgastante, uma desordem estrutural, a dificuldade em alcançar objetivos previamente estabelecidos, entre outros motivos, levantam grandes questionamento a respeito da finalidade de todo esse esforço, mediante o labor, e a relação com multitarefas. O indivíduo hoje precisa ser múltiplo, para que possa conseguir arcar com todas as suas responsabilidades, e quando se dá conta, vê-se perdido em um vão, que o posiciona em direção a caminhos, que irão decidir a forma que esse sujeito irá se relacionar com o meio ao qual está inserido.

Os dias perdem a sua capacidade de comportar tudo o que se considere necessário ser feito, não há mais tempo para contemplar a natureza, e muitas questões acabam se automatizando, a praticidade invade o cotidiano, e toma formas como os meios de comunicação, que tentam estabelecer uma ilusória proximidade, mas atém todos os seus adeptos às suas limitações, que talvez distanciem ainda mais.

O tempo passa cada vez mais rápido, e a perda ainda que inconsciente, retrata justamente essa realidade. Prioriza-se a satisfação de desejos e faltas, que em sua grande maioria corresponde a faltas materiais, dando lugar a novas faltas impostas pelos valores sociais atuais que visam o consumo exacerbado. As relações interpessoais são colocadas em segundo plano e onde essa falta, ao contrário do material, não é suprida, onde o caminhar do tempo só a faz aumentar. O vazio torna-se indetectável, não mais se conhecem, não mais se entendem, a falta já existente faz-se cada vez mais incompreensível, e desencadeia muitos outros fatores que hoje em dia ultrapassam as fronteiras suportáveis pelos indivíduos.

 Sendo a melancolia, há muito abordada por diversos escritores e filósofos, ganha hoje ainda muito mais força, e maior notoriedade. Seu estado muitas vezes relatado como forma de contemplação, hoje se dá principalmente como fonte de angustia, recebendo também na atualidade, outras significações, mas sua essência continua a mesma.
Por: Gabriela Florêncio, Pâmela Piccinini, Roberta Rodrigues

Um comentário:

  1. Uma boa diferenciação entre luto e melancolia faz toda diferença, pode-se tomar caminhos que levam ao ponto central que exige atenção, ajudando o paciente/cliente a se encontrar e redefinir sua posição.

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