segunda-feira, 19 de maio de 2014

Adolescentes e grupos: Até que ponto eles se completam?

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A adolescência é uma fase de extrema importância e delicadeza para o desenvolvimento humano, como é de conhecimento de todos, ela é repleta de inseguranças, busca de liberdade, caminhos individuais, separação dos pais e tantos outros marcos dos quais a sociedade tanto reclama. É uma fase onde os pais são “excluídos” de suas vidas, se assim podemos dizer, pois como Sigmund Freud defendia em suas teorias, o desligamento da autoridade dos pais faz com que o adolescente se separe ainda mais de seus deles, procurando novas identidades. Essas novas identidades são encontradas e acolhidas nos mais diversos grupos existentes no mundo adolescente, sejam eles famosos e com personalidades exclusivas, sejam mais recatados e até religiosos.
Muitas vezes os processos grupais fazem com que o adolescente se distancie ainda mais de seus pais, uma vez que para assumir a autonomia que tanto desejam eles precisam discordar de quem outrora lhes ditavam todas as regras, e agora podem ser caracterizados como seus piores inimigos, seus rivais! Dentro dos grupos onde se encaixam, os adolescentes partilham ideias e objetivos em comum que fortificam ainda mais sua nova identidade; nesses grupos eles também encontram espaço para serem mais audaciosos, tomar decisões típicas de adolescentes, mas que talvez sozinhos não pudessem ser tomadas, e todas elas ou a sua grande maioria sempre vai entrar em discórdia com tudo aquilo que sempre foi ensinado por seus pais.
E como é difícil para esses adolescentes tentarem seguir, pelo menos pela obrigação que esta fase ainda lhes oferece, as ordens que os seus pais lhes dão, ordens que um dia eles obedeceram sem questionar... Mas eles não são mais crianças! Também não são adultos! Eis aí uma enorme confusão onde eles encontram nos grupos, com todos os seus processos, um acolhimento para seus dilemas. O corpo que está se transformando e pensamentos que garantem autonomia se mesclam com a dependência que ainda têm dos pais, com todas as incertezas e com as temidas responsabilidades do mundo adulto. Daqui por diante eles precisam decidir como adultos e serem reconhecidos como tal.
Segundo Arminda Aberastury, pág.13 “entrar no mundo dos adultos-desejado e temido - significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança. É o momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que começou com o nascimento”.
Junta-se a questão da separação dos pais na vida de seus filhos e o relacionamento perante este grupo, que agora sim pensam, agem e fazem as mesmas coisas todos juntos, e sim, são reconhecidos entre eles. Segundo Sigmund Freud citado no cap.9, Processos de grupos: a influência de grupo, pág.212 e 213, "Chegou o ponto de dizer que o conflito é um subproduto inevitável da civilização. Os objetivos e necessidades de um individuo chocam-se frequentemente com os de seus companheiros humanos. A natureza do conflito e as maneiras como ele pode ser solucionado, tem sido objeto de grande volume de pesquisa em psicologia social”.
O apoio grupal na vida do adolescente o encoraja e muitas vezes o leva a tomar decisões sem o mínimo de cautela, apoiando-se em grupos de vandalismo ou até mesmo que fazem uso de substâncias entorpecentes que podem lhes causar grandes danos tanto biológicos quanto mentais. Segundo Aroudo Rodrigues no livro Psicologia Social 21°Ed, as decisões tomadas em grupo tendem ser mais arriscadas, mais audaciosas e menos conservadoras do que as decisões tomadas individualmente. Ele explica que isso se deve, principalmente, ao fato de que nas decisões tomadas em grupo há uma difusão das responsabilidades, os membros de grupos coesos se deixam levar pelo entusiasmo do grupo e passam a agir mais emocionalmente do que racionalmente. Essa característica grupal, associada à naturalidade com que os adolescentes agem sem analisar as situações, muitas vezes resulta em formações de gangues que comentem crimes bárbaros, atacam pessoas inocentes e depredam o patrimônio púbico.
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Os pais tem muito cuidado com que tipos de grupos os seus filhos estão se relacionando, pois se sabe que na presença de outras pessoas eles se comportam de uma maneira diferente de quando estão sozinhos ou com a família. A relação da fase adolescente com os processos grupais é bastante nítida quando observamos algumas situações como a que citamos anteriormente em relação à tomada de decisões coletivas e sem responsabilidade individual, explicada pelo processo de desinviduação, quando por trás de roupas, de pinturas no rosto, são escondidas as suas verdadeiras identidades, tendendo a agir com mais brutalidade. O processo de vadiagem social também é muito comum nas relações adolescentes, principalmente dentro dos ambientes escolares, é dada determinada tarefa a um grupo e esta tarefa deve ser realizada com a participação de todos os componentes, porém um deles ou alguns deles tendem a fazer menos esforço para concluir o pedido do que se o mesmo trabalho tivesse sido aplicado de forma individual.
De uma forma geral, os grupos estão sempre fazendo parte do processo adolescente, uma vez que lhes oferecem apoio, elementos para identificação e fortalecimento de suas ideias, oferecem também o que muitos pais deveriam oferecer a seus filhos que tanto querem e precisam de sua atenção; a escuta, a compreensão e a confiança em suas potencialidades.

Por: Roberyka Tallyta e Tamires Silva.
  

3 comentários:

  1. Ler Aberastury foi fascinante para mim! Quando recomendada a leitura do livro pela professora Patrícia, não imaginei que me encantaria tanto pela obra dela, de como ela passa todo o contexto "Adolescência" de uma forma simples..mas, sem deixar a desejar no que diz respeito a explanação do conteúdo. Estudar adolescência as vezes soa até cômico, por vez ou outra nos depararmos com comportamentos que outrora tivemos, e hoje poder "entendê-los". Acredito que em relação a essa questão grupal, é um ponto de fuga. Como vocês mesmas expuseram no texto "os adolescentes encontram nos grupos com todos os seus processos um acolhimento para seus dilemas". No trabalho que desenvolvemos em sala, observamos nitidamente como se dá esse processo (até por nossas experiências próprias). São nos grupos que eles vão "ser o que querem" na medida que contrarie as normas ditadas pelos pais. (Ou o que os pais esperam que eles sejam) É o momento de contrariar. Apesar de haver as exceções.. em todo e qualquer caso. É o momento "mil e um problemas! preciso fugir disso" e será nos grupos que eles encontrarão esse refúgio. Enfim, parabéns meninas. Muito bem colocado o conteúdo!

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  2. Obrigada Dani, é interessante a sua colocação acerca da questao dos grupos como ponto de fuga para os adolescentes e de fato eles valorizam muito os grupos dos quais participam porque la eles encontram refugio, uma coisa que nos preocupa bastante são as exceções que levam esses adolescentes para a agressao, vandalismo, crimes e etc... é uma questao muito interessante para ser discutida porque sao dois lados importantes de um processo, os grupos que acolhem, oferecem espaço para identificação e reconhecimento e os grupos que alem de oferecer tudo isso levam os jovens a atitudes e comportamentos contra o bem social.

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  3. Eu e Tamires tentamos passar o que estar por trás de um grupo de adolescentes e o que estudamos tem a haver com certas atitudes influenciadas por outras pessoas que são diferentes das quando eles estão sozinhos e o motivo pelo qual o leva a ter mais identificação com o grupo do que com os seus próprios pais.

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