sexta-feira, 16 de maio de 2014

Desculpe o transtorno.



Com a greve de policiais e bombeiros militares, o estado vive dias de pânico. Diante do mito da não violência brasileira, como explicar tamanha exibição continua de violência no país, onde diante de diversas manifestações, fica circunscrita ao campo da delinquência e da criminalidade? “A profissão de policial militar é uma atividade de alto risco, uma vez que esses profissionais lidam, no seu cotidiano, com a violência, a brutalidade e a morte.” (Marcos Costa, p.01, 2007) Assim sendo, da mesma forma que a sociedade exige e necessita de policiais competentes e honestos, esses profissionais precisam também da dignidade de um salário justo, visto que, dedicam suas vidas pra assegurar a vida alheia. É totalmente compreensível a indignação da população frente a tamanha falta de segurança, acompanhada de diversos atos de vandalismo, mas torna-se necessário, pensar-se no outro lado; será que o gigante acordou dessa vez pra não dormir? Será que isso escancara apenas a falta de segurança? Lembramo-nos do quanto é importante o trabalho deles agora que nos falta? Enquanto acreditarmos que tudo se trata de uma crise, nada será feito e nada será pensado.
Os “arrastões” dos últimos dias nas cidades pernambucanas nos levam a reflexão sobre a influência de grupos no comportamento dos indivíduos. Os primeiros estudos  sobre   definições de grupo eram baseadas em experimentos individuais, e com o resultado de tais experimentos se chegava a uma generalização. Entretanto, com a influência da 2º Guerra Mundial, tornou-se perceptível que as implicações individuais não davam conta de explicar o comportamento social em sua totalidade.  As pesquisas de Zimbardo, baseadas no conceito Junguiano de  individuação, apontaram para um novo conceito denominado desindividuação.  Este ultimo refere-se a ausência do sentimento de individualidade, possível de verificar em grupos nos quais se adquire um anonimato físico ou em que a autoconsciência passa a ser reduzida. As cenas do vídeo acima fazem referência exatamente a este fenômeno. As pessoas que vemos invadindo a loja de eletrodomésticos dificilmente realizariam a mesma ação se estivessem sozinhas ou em um grupo menor e menos influente.
A influência dos grupos  é perceptível  durante todas as fases da vida entretanto, na adolescência,  o grupo é uma das principais estratégias utilizadas para demarcar uma identidade própria.  Por isso é comum que adolescentes  se  reúnam nas  determinadas tribos. O comportamento dos mesmos toma como ponto de referência o grupo ao qual está inserido. Alguns autores chegam a afirmar que não existe adolescência sem transgressão. Portanto é comum que nestas ações nas quais um grupo transgrede de forma radical, os adolescentes a ele pertencente ou que queiram se inserir no mesmo tendam a agir de forma coerente, pois assim ganham a atenção dos demais membros podendo, portanto demarcar seu território.
Segundo uma pesquisa feita por Marcos Costa, (2004-2005), através de um estudo descritivo, com corte transversal, ele procurou descrever os níveis de estresse nos policiais militares na cidade de Natal, com base na avaliação individual de cada um dos membros desse grupo.  A população de interesse era composta de 3 193 indivíduos divididos em oito conglomerados (unidades militares), que eram, por sua vez, divididos em quatro subgrupos hierárquicos. A partir daí, foi dimensionada uma amostra aleatória estratificada; a amostra foi estratificada de acordo com os quatro grandes grupos hierárquicos existentes na corporação. Os dados foram coletados por meio do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) (8). Esse instrumento foi desenvolvido para medir o nível de estresse global e não ocupacional em jovens e adultos. O ISSL, utilizado em inúmeras pesquisas e trabalhos na área do estresse no Brasil (9–12), emprega um modelo quadrifásico, com cada fase refletindo a intensidade do estresse: O ISSL é composto por 37 itens de natureza somática e 19 de natureza psicológica, sendo alguns repetidos, diferenciados apenas em termos de intensidade. Os critérios de inclusão adotados para a amostra foram: estar no mínimo há 2 anos na corporação; concordância em participar do estudo, após informações detalhadas sobre os seus objetivos; assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido; e pertencer ao CPC. O projeto foi aprovado pelo Conselho de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os dados foram coletados entre junho de 2004 e janeiro de 2005. Como resultado, são descritos os resultados relativos à variável dependente do estresse entendido como um processo patológico, resultante de uma reação orgânica do corpo às influências externas e de condições anormais, as quais tendem a prejudicar a homeostase do organismo. Dos 264 policiais investigados, 125 (47,4%) apresentaram estresse, contra 139 (52,6%) com diagnóstico negativo (P = 0,398). Embora a diferença não seja significativa, o percentual de policiais com estresse é preocupante. Foi observada uma expressiva prevalência de sintomas psicológicos, característicos das fases de resistência e quase exaustão, em todos os postos hierárquicos da corporação, tais como sintomas de nervosismo, irritabilidade excessiva, raiva prolongada, cansaço excessivo, irritabilidade sem causa aparente e perda do senso de humor. Os sintomas físicos mais prevalentes foram mãos e pés frios, excessiva sudorese, tensão muscular, insônia, cansaço permanente, flatulência, falta de memória e doenças dermatológicas. No presente estudo, os níveis de estresse encontrados nos policiais militares de Natal foram semelhantes aos descritos para homens e mulheres adultos brasileiros.

    Por: Raí Ramos e Wellington Oliveira

4 comentários:

  1. Através dos grupos que os adolescentes se identificam podemos perceber que essa transgressão e muito mais ativada na presença de outras pessoas,onde a influência coletiva se faz presente neste caos que o estado presenciou nos últimos dias.

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  2. Com certeza. É tanto que podemos observar claramente as noticias dos jornais que mostram o indice de adolescentes envolvidos com gangues que praticam o vandalismo e outras coisas que sozinhos talvez eles nao fizessem, crescer a cada ano. Sendo o envolvimento com trafico de drogas o principal motivo que engaja esses adolescentes no mundo do crime. De 2011 a 2012 por exemplo houve um aumento de 14,3% no numero de apreensoes, segundo o Jornal O Gobo.

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  3. Podemos observar também , logo após os arrastões , percebemos que houve até um certo arrependimento pelo ato cometido por alguns. Alguns casos, o próprio saqueador devolveu o produto a loja a que ele surrupiou o(s) produto(s) entretanto, outros por motivo de '' força maior'' ( pais , familiares , e até mesmo ameaças de outrem ) fez com que devolvessem os objetos furtados. Vejamos, apesar do que foi visto por todos, ainda resta uma certa '' esperança'' de que mesmo sendo a maioria sendo de classe D ou E ,com pouca escolaridade,envoltos pela violência e a ignorância ,conseguimos perceber que mesmo tendo cometido o ato falho, alguns tem a capacidade de refletir do que é ''certo ou o que é errado '' perante a uma sociedade que tenta estabelecer a ordem e o bom senso.

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  4. Esse tipo de ação é demonstração verdadeira de como o país se encontra, sem investimentos suficientes na formação, que é essencial a população na intenção de a mesma não ter que ser sempre sub julgada por forças militares para o estabelecimento da ordem. Mas como isso pode ser possível se diante de uma crise não sabemos como agir? Simplesmente somos impulsionados cegamente a agir de forma impensada? Esses acontecimentos não devem só servir de reflexão para uma possível mudança, mas existe a necessidade de mudarmos a nossa realidade ou continuar assistindo, quem sabe muitas vezes de camarote, o nosso próprio fracasso.

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