terça-feira, 27 de maio de 2014

Re(invenção)




 

Tudo é vário.
Temporário.

 Efêmero.

 Nunca somos, sempre estamos.
                             Chico Buarque



 
  Os tempos atuais trazem novas formas de identidades, novas possibilidades de ser e estar no mundo; isso se torna facilmente notável, em uma sociedade contemporânea, marcada por diversas transformações; onde os ideias de liberdade e autonomia são centrais, e os mais exaltados. Nos primórdios, eram poucos os elementos que podiam gozar, desse sentimento de liberdade e autonomia, e hoje, diferentemente dessa sociedade fraterna que se existia, somos muitas vezes,  impulsionados a acionar nossos preconceitos e discriminações, excluindo coisas e pessoas, que simplesmente por serem diferentes, são vistos de maneira estranha, isso mostra e fala da nossa dificuldade, de trato com as diferença e os diferentes, e com tudo aquilo que foge dos padrões de normalidade. Nas sociedades tradicionais, o sujeito era determinado pela família, pela igreja, por várias instâncias e por seu lugar na sociedade, o individuo ainda não era o valor fundamental. Na sociedade contemporânea, diferentemente, a tradição tem muito pouco valor, esses referenciais se fragilizaram, se tornaram pouco seguros, para que nós ancoremos nossas identidades neles, e todos nós passamos a poder ser narradores de nós próprios. Vivemos novas formas de ser e estar no mundo, vivemos em um mundo, em constante transformação, e temos que nos reinventar ao longo da vida.

 E que em meio a essas mudanças e transformações constantes, que possamos nos transformar em reticências, que possamos ser aqueles três pontos interminaveis, que insistem em dizer que nada está fechado, e que a esquina seguinte guarde sempre o inconstante, que não saibamos o que vai dar, o que vai ser, quem vamos achar, que algo sempre esteja por vir. Nada pronto, definido, tudo sempre em construção.  Que vivamos em uma eterna reticência,  na consciencia de que tudo é passageiro, e é o nosso ir que faz o caminho. Afinal, nunca somos, sempre estamos. A vida se faz assim, estou indo e não sei aonde o certo será.

"Longa é a viagem rumo a si próprio, inesperada é sua descoberta." (Thomas Mann)

 Por: Raí Ramos de Moura.

5 comentários:

  1. Engana-se quem diz que não muda, que é e sempre será a mesma pessoa. Como é possível isso? A cada dia vivemos novas experiências, temos novas oportunidades e isso muito ou pouco nos muda. Somos seres em constantes transformações, nunca satisfeitos, confusos.
    Como bem foi citado na aula do professor Taciano, "eu não sou, eu estou sendo". É aquela velha história: hoje aqui, amanhã não se sabe!

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  2. Que texto ótimo Raí. Parabéns pela criatividade. :)

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  3. Excelente construção Raí. Concordo plenamente com o que foi dito. É praticamente impossível sermos hoje a mesma pessoa de ontem, após algumas experiências. E cada momento vivido vale como aprendizado para nos reinventarmos.

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  4. Gostei muito do texto. Diz muito do que vemos constantemente em sala de aula, essa ênfase na identidade em construção. Uma desconstrução continua do que acreditamos.

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  5. E o mais bonito é isso, é sermos eternas reticências. Algo indefinido seguindo apenas a lógica do ser. Lindo texto.

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