quinta-feira, 29 de maio de 2014

Os dilemas de ser e estar no mundo

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“Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo.” (HALL, 1992)

Nas palavras de nosso caro professor, Taciano Valério: “Nós precisamos de uma referência para justificar nossa existência”. Mas a questão está no fato de que, referências a seguir não nos falta, a toda hora, em qualquer lugar que se procure, pode-se encontrar uma referência, seja sobre raça, sexualidade, religião, gênero, etc. E entre tantas opções como “escolher” a certa, se é que essa existe? Qual delas eleger para me guiar e representar? Ainda que eu “escolhesse” ou elegesse um ponto apenas representativo de mim, em que me basear para a tomada de uma atitude em relação a alguma questão, não poderia considerar este ponto apenas como constituinte do meu eu por completo. Pois eu, não sou apenas uma, não me encaixo em uma categoria, não caibo, não me encerro em ser isso ou aquilo, portanto uma identidade apenas não me define, não me comporta. Em meio ao mar turbulento de identidades em que nos encontramos hoje, sentimo-nos perdidos, pois não somos mais os seres centrados e unificados que julgávamos ser no passado, mais especificamente por volta do século XVII e XVIII na época do Iluminismo (HALL, 1992), em nosso mundo contemporâneo não há mais espaço para os valores arcaicos que, se de alguma forma nos oprimiam e constrangiam a segui-los sem questionar, ao menos nos ofereciam a tranquilidade e a segurança interior de papéis e funções sociais pré-estabelecidos. Não quero dizer com isso que devemos nos lançar em uma tentativa absurda de voltar a viver como vivíamos no passado, isso seria, em minha opinião, fazer um caminho inverso ao do progresso. Contudo, há algo que não pode ser ignorado, o nosso mundo democrático, civilizado, globalizado, não nos tornou menos escravizados, alienados, excluídos, injustiçados, tristes, violentos ou solitários do que já fomos antes. O ser humano não é hoje mais feliz do que era no passado, tampouco mais “bem-resolvido”. Destruímos os valores, os padrões, as normas que nos aprisionavam, entretanto parece que ainda não encontramos nada melhor para substituí-los. Pagamos um preço muito alto em nome da “liberdade”.

 Por: Mariana Dutra


Fonte: A identidade cultural na pós-modernidade (HALL, 1992).


Um comentário:

  1. "Não sou apenas uma, não me encaixo em uma categoria". O mais bonito é fazer existir essa liberdade de ser. Ser o que quiser!

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