segunda-feira, 19 de maio de 2014

Palavras de um sonho

Meu sonho esta noite,
Disse quem sou.
Sou aquele que não suporta que a confiança,
Não seja depositada em mim.
Sou aquele que os outros repreendem.

O invisível.
O imperceptível.
Que observa constantemente.
O sonho também,
Disse-me que sou um assassino.
Desejo matar a mim mesmo,
De todas as formas.
Até em divertimentos e alegrias,


Desejo-me a morte.
Sou a fuga.
Desejo escapar a todo momento,
Do tornado em minha mente.
Sou o entorpecimento dos sentidos,
Quando me percebo inerte ao que antes impressionava e impactava.

Não ligo.
Não ouço.
Não vi.
Não entendo.
Não interessa.
Se me deixar viver ou morrer,
Eu não me importo mais.

Mas mesmo assim,
O sonho insistiu dizendo,
Que sou principalmente aquele que possui o maior medo,
De ser perdido.
Ou de perder o que sustenta qualquer um:
O sentir.

Por: Milena Nayane

4 comentários:

  1. Nossa... me chamou muita atenção a primeira estrofe... Como é dificil nao poder contar com a confiança das pessoas nao é mesmo? Me reportei agora para as discursoes tanto em saude mental quanto em genealogia de como os adolescentes vivem neste dilema de ter perdido a confiança dos pais e serem repreendidos a todo momento, nao poder muitas vezes nem expressar algum projeto que tenham em mente porque serao de cara ignorados, porque "isso é coisa de adolescente, depois passa" como costumam dizer por ai. Da mesma forma observo como sao tratadas as pessoas em sofrimento mental, aquelas que ainda vivem em lugares sem a assistencia devida e que nao tem quem as escute, lugares onde a assistencia basica chega, mas a saude mental ainda é vista compartimentada da saude biologica... fico imaginando como elas tentam expressar sentido em suas vidas, mas nao tem ninguem que as ajude a encontrar este sentido, que confie em suas palavras, que as veja como pessoas e lhes ofereca cuidado, o cuidado que precisam...

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  2. Através do poema pude perceber que a influência do outro pode mudar o seu ser. Ou simplesmente, ser o que queira ser. Parabéns pelo belo poema, Milena!

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  3. Me levou a pensar na tamanha confusão que em especial a grande maioria dos adolescentes vivenciam nesse processo intenso e avassalador que é o de transformação, é uma busca constante por algo que ainda não se sabe ao certo o que é, são milhões de perguntas muitas vezes sem respostas!

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  4. A sensibilidade captada nesse poema é linda! O trecho "Sou fuga" me remete a fuga de si, já que não mais sente-se dor, torna-se ela.
    Fugir da dor, do medo (relato no poema), do julgamento dos outros que ao invés de ajudar, só pioram.
    Acredito que uma das maiores dores do suicida (se é que pode-se classificar) é a do não sentir.
    Como cita a música "Socorro" de Arnaldo Antunes, da qual ele diz " Socorro, alguém me dê um coração, que esse já não bate e nem apanha".
    Enfim, parabéns pelo poema Milena!

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