sexta-feira, 30 de maio de 2014

Menos que nada

          Menos que nada conta a história de Dante, um esquizofrênico, o qual chama a atenção de uma residente em psiquiatria, Paula. A estória começa quando Dante ainda era criança, brincando com uma amiguinha, onde é reprimido pela mãe colocando-lhe que aquele comportamento era inadequado, por estar com a menina. Logo, percebe-se o comportamento de sua mãe em querer reprimir algo que é natural da criança, como brincar com os colegas. Então, Dante sabendo que não pode mais encontrar a colega vai ao seu encontro para despedir-se e lhe dá um beijo, e a mesma lhe dá um boné para que ele guarde de lembrança. Logo em seguida, passam-se anos e surge a cena retratando o dia a dia de um hospital psiquiátrico, nossos olhos logo sofrem impacto diante das cenas que se seguem a partir dai, mostrando-nos o descaso nos hospitais, as condições desumanas que aqueles internos ali se encontram. Esse filme nos surpreende a cada cena, e nos toma atenção à situação da saúde mental brasileira. O descaso  é nítido, quando como por exemplo vemos que muitos ali estão abandonados, e muitos nem os prontuários estão atualizados. Dante é considerado incurável e assim como muitos que lá estão, sobrevive com medicações que nem sequer foram revisadas, continua há anos com a mesma. Paula, começa então uma pesquisa para poder entender toda a história daquele paciente, inicia-se então busca por conhecidos, familiares, relatórios médicos; etc. Muitas das cenas oscilam entre a verdade –real- e o imaginário, porém, entra a questão “a verdade do paciente é aquela que ele percebe, sente e vive”.  Essa oscilação também nos permite imaginar, viajar nessa estória  ficando confusos com seus delírios e alucinações (confesso que fiquei assim) Um exemplo disso é quando Dante está tendo alucinação, quando usa a cadeira como se tivesse tendo uma relação sexual, logo em seguida uma luta e depois a morte – percepção do objeto inexistente como real -. Entramos em uma confusão, adentramos ao emaranhado mundo de Dante. O que me chamou bastante atenção nesse filme também, é a colocação da Paula, a relação médica/paciente, pois, ela permite o olhar por trás daquele diagnóstico de esquizofrênico, o que faz com que haja uma evolução do Dante diante dessa relação.  O filme é simplesmente encantador!  Ele nos permite adentrar ao mundo de Dante, compreender a necessidade da relação para constituição do ser, as condições desumanas dos hospitais psiquiátricos, a relação médico/paciente. É de uma sensibilidade sublime. 


Abaixo segue o link do filme completo àqueles que desejarem apreciar essa obra maravilhosa.




(Música : Uma tarde de outono de 73)





Eu não me lembro bem mas foi numa tarde de outono de 73
Eu estava sentado num pátio e me agarrava ao sol com
todos as minhas forcas
Enquanto alguém com olhos sem vida me dizia
No hospital você tem todo tempo do mundo 
E os latrilhos que brilhavam o sol, lá fora eu lhe
asseguro não eram tão brilhantes lá dentro
E as pessoas que minha mãe achou tão gentis
Eu lhe asseguro não eram tão gentis lá dentro
E quando alguém com olhos sem vida me dizia
No hospital você tem todo tempo do mundo 
Eles só disseram pra mim que eu não podia tocar nas
mulheres
Mas eu me esqueci e beijei uma garota pela 1ª vez
Mas eu me esqueci e descubri pela 1ª vez que o mundo
não tolera os desobidientes
Enquanto eu secava as feridas do meu lábio
Alguém com os olhos sem vida me dizia
No hospital... 
Eu tentava descobrir o que eu havia feito de errado 
para eles me colocarem la dentro
Mas parece que não era eu que determinava o que estava
certo no mundo
Eu não me lembro bem mas foi depois de uma tarde de
outubro de 73
Era quase noite e eu dançava com uma garota na salão
Os enfermeiros riam e nos observavam
De braços cruzados
O radio tocava uma canção
O radio...
Devia ser o que eles chamava de festinha das 5
O radio tocava uma canção
E a garota chorava, e a garota chorava
No hospital você tem todo tempo do mundo



Por: Danielle Soares

2 comentários:

  1. Bela indicação Danielle, esse filme é muito bom, principalmente porque não tem o foco na doença, relata muito sobre o que fez o Dante chegar a tal estado e conta sua história de vida, sem o reduzir a doença. O filme mostra a realidade manicomial e como os profissionais tem o poder de mudar isto, Paula poderia ter sido apenas mais uma psiquiatra, mas ela foi além e comprometeu-se com o seu trabalho. Excelente filme!

    ResponderExcluir
  2. Justo! Acho que é isso que mais me chama atenção, até mesmo como citei no texto. Essa relação médica/paciente. Pois, tudo poderia continuar da mesma forma ou pior se Paula não tivesse esse "outro" olhar diante da situação. É incrível, já assisti várias vezes e sempre me toca. O enredo, a interpretação dos autores, a musicalidade, tudo.

    ResponderExcluir