quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sobre a morte

Todos nós iremos morrer, e acredite...Isso é tão natural quanto estar vivo.

         A morte pode ser vista como algo incompreensível, impronunciável ou tamanho absurdo, mas nada disso mudará o fato de que a morte é algo inevitável. Nos tempos modernos ela se distancia cada vez mais do ser humano. Não “se morre” mais como antigamente, não se fala sobre a “morte e o morrer” como antigamente. Hoje, a morte é um tabu. Ao compararmos os costumes, vemos a diferença que há no velamento de um corpo. Se voltarmos um pouco no tempo, havia toda uma preparação para esse momento, o defunto era velado em casa, acendiam as velas, durante dois ou três dias, seus parentes e amigos, com vestimentas de luto, permaneciam ali para o último adeus, havia cânticos e não se escondia a morte para as crianças. Hoje, “morre-se em hospitais”. O que antes as famílias organizavam (velório, etc) ficam a cargo das funerárias. (Quanto mais distante estiver, melhor).  A partir disso é perceptível o quão a morte é vista como o “maior inimigo” de todos os tempos. Usam de todas as forças para lutar contra, vencê-la – mesmo sabendo que esta seja a maior certeza de sua existência –. A morte vem carregada de angústias e frustrações. Porém, Elisabeth Kübler-Ross retrata a importância de não ignorar a morte como parte essencial do desenvolvimento humano.
O sujeito quando se depara com a morte se confronta com a sua própria limitação existencial. Nesse processo do “futuro-ser-morto” Kübler-Ross traz os cinco estágios do luto: Negação e Isolamento; Raiva; Negociação e Diálogo; Depressão e, por fim Aceitação. No primeiro estágio, diante da notícia de morte (seja sua morte ou de alguém próximo) o sujeito inicia um turbilhão de perguntas, a principal delas “Por que eu?”. É a fase da negação. Passando dessa fase, o sujeito entrará na Raiva, onde ele não poderá mais negar sua mortalidade e se revoltará. O terceiro estágio é o da barganha (negociação) onde ele se vê impotente diante da morte, então tenta negociar sua estadia enquanto ser vivo. O quarto estágio é o da Depressão, que é quando o sujeito vê todas suas tentativas de negociação falharem diante de algo que é inegociável –sua morte- E os sentimentos de perdas são inevitáveis. E, por fim, o estágio da Aceitação, onde ele aceita sua realidade e não deseja mais lutar contra. É quando ele compreende o sentido da morte, e como ela faz parte de nossas vidas. Pois, o homem jamais se verá como ser-morto se não passar por essas fases do luto. O homem enquanto ser pensante, tem consciência de sua individualidade e de sua existência mortal no mundo. Mas, apesar de ter essa consciência da morte, é um tanto quanto difícil para o sujeito pensar sobre sua própria morte. Pois, como diria Rodrigues (2006) Através de que meios, poderia um ser pensante pensar a condição de não-pensamento, sua condição de não-pensante?”. É pensar o impensável!



Recomendo assistirem ao filme “A fonte da vida” que retrata justamente os pontos expostos em relação as fases do luto, a negação da morte. Com uma narrativa bem interessante, conta a história de um homem que em três épocas de sua vida (passado-presente-futuro) confronta a morte como se ela fosse uma doença, como se houvesse cura. E em todas as épocas busca a eternidade ao lado da mulher.  




Por: Danielle Soares

9 comentários:

  1. Falar de morte é muito difícil, tão difícil que nem sequer queremos falar sobre assunto, pois se é uma coisa que nos limita, que nos destroem, que nos torna mais miseráveis, ou, nos iguala aquilo que achamos ser miserável (como por exemplo os vermes que consumirão nosso corpo pós-passagem da própria em nossa existência), não é assunto a ser tratado em café-da-manhã por exemplo. Acredito que falar de morte é também como falar de Deus, não temos experiência com ambos, apenas rumores de como são, através dos outros e das coisas.

    Parabéns Danielle Soares

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  2. a morte nos traz a ideia de igualdade, nos faz repensar os motivos que as vezes nos dão a ilusão de ser superior a alguém. A morte joga em nossa cara que não temos tempo a perder, que somos como uma vela, temos a ideia de quanto tempo ela dura, mas existe a possibilidade de que ela se apague antes do tempo.

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  4. A morte nos faz repensar o quanto à vida é incerta e como tudo muda tão rapidamente; gosto do trecho da música de Legião Urbana-Tempo Pedido.

    "Todos os dias quando acordo
    Não tenho mais
    O tempo que passou
    Mas tenho muito tempo
    Temos todo o tempo do mundo"

    Para mim todo o tempo do mundo é o agora!!!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. As vezes pensar sobre a morte é justamente pensar que a qualquer momento tudo aquilo que com tanto esforço construímos será deixado para traz sem nenhum aviso prévio, deixando as consequências ( saudade, solidão, dividas, planos, etc) para aqueles que nos amaram e diante de tudo isso nada puderam fazer. Quando essa ideia de impossibilidade para agir vem à nossa mente, somos bombardeados com uma angústia que nos faz desejar que a morte não se aproxime de nós nem tão cedo e as vezes, ate preferimos não pensá-la.

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  7. Justamente, dois fatos que mais chamam minha atenção nas pessoas quando temerem a morte: 1o pelo fato do desconhecido. 2o pelo fato de nao podê-la conter, ou seja, ninguém sabe como é sentir o peso/levesa da morte, pois, é desconhecido e isso tira as pessoas da sua zona de conforto. Mas, a morte infelizmente é uma realidade inexorável, não tendo como pedir nem suplicar que ela não venha. O engraçado que antigamente como citado no seu texto as pessoas mesmo desconhecendo, a respeitavam( não que hoje elas não a respeitem) de tal forma que era todo um "ritual" (velar o corpo se inserir no contexto de forma direta). E hoje em dia isso inquieta, trás medo vindo com seus tabus. O que chama a atenção neste ponto é que antigamente as pessoas não tinham tanto conhecimento sobre estudos (mesmo eles existindo, grandes estudiosos), mas conhecimento popular, assim a aceitavam, mesmo sem aceitar. Hoje não, as pessoas a temem, não aguentam nem ouvir este nome, e mesmo sem conhecer já sabem o que vão sentir quando alguem próximo "partir", mas uma vez inevitável, pois os 5 estágios de um ser humano após morte por ex de um ente querido são justamentes estes, principalmente o da não aceitaçao o que acarreta na depressão, depressão provida da incapacidade de retardar ou ceifar a própria morte. Como dizem: "a única coisa certa na minha vida e que eu vou morrer". Então não tem como se esconder. Na verdade, a morte e provavelmente a única coisa certa na nossa existência, na sua ou na minha. É certo que todos nos vamos morrer um dia.

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  8. Parabéns pelo texto e pela ótima coesão das palavras Dani.

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  9. Muitas vezes só estamos preocupados em resolver ou providenciar a morte física, cuidamos do corpo para que não padeça, mas não nos importamos muitas vezes com a morte que atinge o nosso "eu". Nossa personalidade sofre mudanças, das quais exigem a passagem de um luto sobre as escolhas que fazíamos e que por algum motivo, independendo da ordem, fez-se necessário a mudança.
    Estamos sendo guiados para uma vivencia em sociedade que exclui a subjetividade para uma padronização, não visando a aflição que o homem ainda carrega dentro de si sobre o seu mais que certo fim.

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