domingo, 25 de maio de 2014

Modelo manicomial vs Modelo psicossocial

      Nessa ultima sexta dia 23 de maio aconteceu em Recife o passeAto da luta antimanicomial e tive a oportunidade de estar presente nesse dia tão importante. A concentração ocorreu no Parque 13 de Maio, onde houve a confecção de cartazes pelos próprios usuários e também pelos trabalhadores e estudantes da saúde mental e algumas apresentações de bandas formadas por usuários do serviço CAPS. Esse não foi só um momento de protestar, mas, também de muita descontração e alegria. No seguir do percurso, todos mostraram seus cartazes, distribuíram panfletos, falaram sobre a importância de se abrir mais serviços de atenção psicossocial, da necessidade de CAPS 24 horas, também pediram melhorias nos serviços já existentes e respeito ao individuo em sofrimento. Chegando ao destino final, Praça do diário, podemos ouvir de diversos participantes depoimentos emocionantes, relatos reais de como é a vida de quem necessita desses serviços de atenção e também de vivências.

      No mesmo dia tive a oportunidade de conhecer o maior hospital psiquiátrico de nosso estado, o Ulysses pernambucano, diante disso pude perceber claramente os dois contextos, as diferentes maneiras de lidar com o individuo em sofrimento mental, no modelo manicomial e no psicossocial. Apenas em olhar para os indivíduos pude ver claramente as diferenças, a alegria dos que estavam no passeAto sorrindo, reivindicando com autonomia, conversando, sendo ouvido... Versos, o olhar perdido, a vontade enorme de ir pra casa (ou de pelo menos receber uma visita), o desejo de ser ouvido e de abraçar alguém, daqueles que se encontravam no hospital psiquiátrico. Indivíduos em surto, em crise ou bastante abalados chegam todos os dias nos CAPS, nos PSFs e também nas emergências dos hospitais psiquiátricos, a necessidade de medicamento é clara e em qualquer um desses lugares é feita quando necessário, a recuperação gradual também acontece no sistema fechado, mas logo surgem as diferenças, o desrespeito quando se trata da subjetividade, a falta de contato com o mundo exterior, as transformações dos papeis sociais, perca da autonomia e da identidade, acredito que fazem o individuo sofrer ainda mais.

       No modelo manicomial o sujeito é orientado para ser dependente da instituição e a sociedade em sua maioria acaba por acreditar que aquele individuo perdeu sua capacidade de voltar a conviver e relacionar-se no grande grupo. O sofrimento mental não é um determinante para que uma pessoa passe sua vida dependendo de outros, mas o modelo manicomial tenta fazer essa ligação entre desrazão e dependência, o que não faz sentido como pude ver no passeAto. O modelo psicossocial tem o objetivo contrário, que é de promover saúde, autonomia e desenvolver capacidades, enfim... promover vida. Mas, ainda assim, devemos estar atentos aos desvios que ocorrem para que não haja uma reprodução do antigo modelo; na última sexta feira pude ver o quão é importante alcançar esses objetivos da rede e pude também ver os resultados, e me encantou a forma com que aqueles usuários enfrentam os seus limites, o preconceito, como conseguem viver bem e com autonomia, tendo a liberdade de falar o que sentem vontade e principalmente o direito de ir e vir, direito este que qualquer ser humano deveria ter e é por isso que lutamos. Não para a cronificação e sim para a vida, para as emoções, para os movimentos, a liberdade e principalmente para as diferenças...

Lute todos os dias! Lute você também!






Por: Laísse Arruda
Vídeo: Danielle Soares

4 comentários:

  1. As aulas de Saúde Mental prendem minha atenção, pois além de serem interessantes e nos trazer muitas informações é também uma área que nos mobiliza, nos faz querer lutar pela melhoria na rede de SM. Ainda há muito preconceito, ignorância e falta de bom senso a muitas pessoas que rotulam sujeitos que estão em sofrimento mental. São movimentos assim que podem mobilizar a sociedade a mudar de opinião em relação a saúde mental, e mostrar que não precisamos de manicômios, precisamos de espaços que acolham essas pessoas e possam contribuir na recuperação dos sujeitos.
    Um salve a luta antimanicomial!!

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    1. Sim, todas as experiências que pude ter em saúde mental neste periodo foram muito boas e me mostraram que nós temos mesmo que ir à luta por quem não pode estar nela. O dia que a professora Geórgia pôde proporcionar foi muito importante pois nele pude conhecer essas dois modelos existentes no acompanhamento do sujeito em sofrimento mental.

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  2. eu desconstrui muitas coisas depois dessa disciplina de saúde mental, a tal da cultura do medo ainda era muito presente em mim e pude também me deparar com conceitos que jamais eu imaginaria que tivessem tanto significado para o trabalho na área de SM. Mudar nomenclaturas, mudar atitudes diante de alguém que está em sofrimento mental e passa por nós na rua, adquirir conhecimento técnico-academico... as transformações vão desde coisas simples do dia a dia até fatores fundamentais para a profissão no futuro.

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  3. Muito bem colocada suas palavras, Laisse!
    E em alguns pontos compartilho de sua opinião.. Eu tive a oportunidade de fazer a visita ao Hospital Psiquiátrico Dr Maia, e me surpreendeu.. visto que já venho com uma bagagem de desconhecimento sobre, um medo imposto até pela própria família desde muito tempo.. não esperava que fosse tão organizado, tão bem cuidados.. Mas, mesmo diante desse cuidado, é nítido aquele olhar profundo, de saudade da família, do convívio social.. em contraponto, o olhar daqueles que estão "livres" lutando pelos próprios direitos.. como nessa PasseAto. É fantástico! Essa disciplina simplesmente é fascinante. Muito me surpreendeu. Me fez mudar conceitos pré concebidos, me mudou o olhar.. me cativou!

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