A partir dos olhares
a cerca do filme documentário Estamira, dirigido por Marcos Prado e lançado em
2005, é observado a história de muitos brasileiros. Pessoas
que vivem em condições precárias, mas que dá uma lição de vida em algumas de
suas falas. Indivíduos que vivem traumas na infância e que perduram para toda a
vida. Sujeitos à margem da violência e como consequência transtornos,
sofrimento mental. O documentário revela as alucinações que esses indivíduos
têm, escutando vozes, vivendo ao redor de pessoas que não os reconhecem como uma
pessoa em sofrimento psíquico.
Traumas
que viveram podem causar sérias consequências como, por exemplo, ser uma pessoa
dita pela sociedade “normal” e que depois do ocorrido, mudam drasticamente,
podendo não concordar e acreditar mais nos fatos de antes. Os conflitos
familiares são bastante críticos no sentido de tentar tratar uma pessoa, pois
ao chegar em casa a realidade é bem diferente. Sem o carinho, a compreensão, o
cuidado, e acima do tudo, o amor.
O
documentário mostra com clareza e exatidão a miséria que muitos brasileiros
vivem, de todo o horror que as forças superiores tentam esconder para não
mostrar a realidade. Pessoas que deveriam ter os mesmos direitos e deveres,
pois retiram a capacidade de ser um ser social e cidadão com todas as
oportunidades, sem diferença de classes. É o mínimo que uma pessoa necessita
para viver como um habitante da cidade, em uma sociedade dita democrática. Será
que todos têm escolhas? Dois caminhos? Será que são autônomos? Direitos e
deveres iguais para todos? Acredito que o país e as políticas devam abrir os olhos
para os quatro cantos do país, para ver de perto toda a realidade, para que
assim seja um país democrático na teoria e na prática.
O trabalho de cunho investigativo tem como preocupação evidenciar a
necessidade de dar voz ao outro, indivíduo que apresenta todas as
características de um “ser abjeto”, ou seja, algo digno de ser isolado, temido,
afastado da normalidade social. Estamira desenha o fio de suas experiências
pessoais de sofrimento, humilhação, até mesmo tortura física e psicológica em
instituições psiquiátricas. Em seu discurso completamente protestante, assumia
ser responsável por revelar as verdades do mundo, não as falsas verdades, mas
as verdades que alienam o homem e destroem o planeta (capitalismo), opunha-se a
Deus, contra o controle mental exercido pelas instituições religiosas, pela
medicalização que só teria papel de calar a voz dos invisíveis.
Estamira,
de tantas estamiras que moram nesse país, uma mulher que sofreu e ainda sofre
pobre, mãe e catadora de lixo, como ela mesma diz: “depósito dos restos que são descuidados que necessita conservar”.
Que todos os dias, luta por sua sobrevivência, dos seus filhos e netos. Uma
mulher dita como “louca” por familiares e médicos (que receitam remédios à
mesma), mas que possui uma sabedoria imensa em todas as suas falas, que convoca
a todas as pessoas a refletir sobre a vida, o comportamento e as atitudes, do
significado de ser um ser humano digno desse nome. Estamira, como tantas
outras, narra todos os dias a sua vida desumana. A miséria e a loucura são
assuntos sociais, culturais, históricos de toda uma desigualdade social que o
país sofre desde o início da sua história.
Caso
haja interesse em conferir esse magnífico trabalho de Marcos Prado, é possível
assisti-lo a seguir:
Por: Rayana Borba e Milena Nayane
Estamira possui algo que se perdeu na essência do homem que se diz cientista e conhecedor da razão: DISCERNIMENTO.
ResponderExcluirSuas palavras nos comprovam seu sofrimento, sua relação com o mundo e sua identidade bem demarcada quando ela diz quem é e o que veio fazer. Para ela não existem dúvidas, mas insatisfação com o que o homem se tornou, um trocadilho.
Estamira demonstra várias vezes suas alucinações, entretanto nas suas falas desconexas existem diversos alertas para a sociedade contemporânea; quando ela fala do controle remoto e dos cientistas, por exemplo, expressa ideias muito importantes a respeito do controle no qual a sociedade vive por parte dos sistemas científicos e religiosos que a norteiam e fazem com que muitas vezes as pessoas deixem de se preocupar com o sofrimento humano para buscar uma ascensão social. É justamente com esse sofrimento que Estamira revela se preocupar, diz que quer ajudar as pessoas e, de fato, seu depoimento ajuda bastante à medida que observamos sua fala e comportamento e paramos para refletir nas prioridades que a sociedade assumiu nos dias atuais, esquecendo o cuidar do humano para dar importância ao possuir.
ResponderExcluirGostei muito do documentário Estamira, para mim foi incrível perceber que uma pessoa totalmente descartada pela sociedade tem uma opinião tão correta sobre esta, ela mostra que quem realmente precisa de ajuda são aqueles que acham que não precisam!!
ResponderExcluirÉ a realidade da pessoa em sofrimento mental, descartada como lixo, impedida de ter sua liberdade, seus direitos, fazendo com que sua subjetividade seja anulada. Quantas outras pessoas, assim como Estamira, não vivem da mesma forma? É uma forma profundamente tocante de dizer que algo está errado, que algo precisa ser modificado, que as pessoas em sofrimento são seres humanos, e que todos possuem os mesmo deveres e direitos.
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